A Transformação Digital é um tema atual, que não pode ser negligenciado pelas organizações, independentemente da sua dimensão. A forma de operar no mercado, de organização do trabalho e de se relacionar com os clientes está a mudar radicalmente e as empresas têm de se adaptar a esta nova realidade.
Segundo o relatório The Economist Intelligence Unit, apenas 10% das empresas se considera totalmente digital, pelo que a grande maioria está ou irá estar num futuro próximo a iniciar processos de transformação digital, que se estão a tornar cada vez mais rápidos e a serem alvo de mais investimento.
A IDC Portugal prevê que nos próximos anos o investimento em tecnologia venha a aumentar na ordem dos 4,8%. As áreas de computação na nuvem, analítica de big data, redes sociais e a mobilidade, sustentados pela robótica, interfaces naturais, impressão 3D, Internet das Coisas, sistemas cognitivos e segurança de próxima geração representarão 52% da despesa em TIC em Portugal.
A integração deste tipo de tecnologia nas organizações permite operar as mudanças na forma como as empresas operam e criam valor para os seus clientes. As organizações passam a apoiar o seu modelo de negócio através de aplicações digitais que sustentam a inovação e, ao mesmo tempo, reduzem o tempo necessário para que serviços e/ou produtos cheguem ao mercado.
As aplicações digitais combinam tecnologias recentes que permitem obter dados de forma rápida e disseminá-los pela organização, utilizando esses dados para melhorar a experiência do consumidor.
O desenvolvimento de software é, então, um elemento central dos processos de transformação digital. Apesar de todas as vantagens que estas aplicações digitais trazem para as organizações, transitar de um modelo de negócio tradicional para um modelo sustentado por software, em muitos casos competindo com empresas nativas digitais, é um processo exigente.
É por isso expectável que os processos de transformação digital sejam iniciados lentamente por grande parte das organizações, e que muitas optem por fazer mudanças de forma faseada. Segundo um inquérito a IT managers promovido pelo site Tech Pro Research, as prioridades das empresas para os próximos tempos são: transferir os seus sistemas para a cloud, reduzir a utilização do papel convertendo processos para suporte digital e usar a análise de dados para avaliar riscos e fazer previsões de crescimento.
Fatores que influenciam a decisão ao nível do desenvolvimento aplicacional
Um dos fatores que mais influencia a decisão de investir em novas aplicações é a velocidade a que a tecnologia evolui. As organizações têm de avançar e decidir quais as soluções a adotar, mas muito rapidamente as decisões se tornam obsoletas, surgindo novas soluções ou tecnologias que podem resolver o mesmo problema de negócio.
A monitorização constante do mercado, das melhores práticas ao nível de desenvolvimento de software é importante, assim como a contratação de talento que consiga avaliar o impacto das transformações tecnológicas nos modelos organizacionais estabelecidos.
Outro fator a considerar é a experiência de utilização, que nalguns tipos de aplicação ou modelos de negócio podia ser negligenciada, mas que atualmente é quase sempre central em qualquer área de negócio. Com uma geração que nasceu com a tecnologia, a massificação da utilização de dispositivos móveis e o desenvolvimento da Internet das Coisas (que, por volta de 2020 fará com que 200 biliões de dispositivos estejam interligados, segundo a projeção da Intel) as organizações tendem a tornar-se dependentes da tecnologia para garantir as suas operações.
Tradicionalmente, as organizações privilegiavam o desenvolvimento de sistemas que automatizam processos internos, muito orientados à otimização de processos e à redução de custos. Atualmente é essencial que estes sistemas incluam a melhoria da experiência do cliente, ao invés de serem apenas centrados nos produtos e serviços da empresa. Não é por acaso que os sistemas de realidade virtual ou os chat bots, que alguns acreditam poderem vir a substituir as apps que usamos diariamente, estão a ser alvo de grandes investimentos pelas empresas, com o objetivo de oferecer uma experiência mais rica ao consumidor.
Outro dos principais desafios com que as empresas que levam a cabo processos de transformação digital se deparam é o da integração destas novas aplicações com o software que suporta o negócio da empresa, quando ainda cumpre as funções para as quais foi inicialmente desenhado.
Os sistemas essenciais para o negócio, que ainda estão funcionais e podem ser parte integrante da estratégia futura da empresa, podem e devem ser reaproveitados. Podem, no entanto, ser adicionadas funcionalidades e serviços que aumentam a oferta da empresa, por exemplo através de APIs, para integrar diferentes sistemas com simplicidade e segurança, agilizando assim os processos de transformação digital.
Desenvolvimento de software e plataformas low code
Ao longo dos últimos anos assistimos a uma mudança entre o modelo de desenvolvimento de software em cascata para a metodologia ágil, que foi responsável por tornar o processo de desenvolvimento de software mais veloz e ajudar muitas empresas a entrar mais rapidamente no mundo digital.
Muitas dessas organizações ainda precisam de melhorar o seu posicionamento no meio digital e uma nova abordagem ao desenvolvimento de software pode ajudá-las.
Neste contexto, surgem novas plataformas de desenvolvimento que podem ajudar as organizações a modernizarem-se e transformarem-se mais rapidamente. Estas plataformas, designadas de low-code pela Forrester Research, permitem acelerar o desenvolvimento aplicacional, pois utilizam uma percentagem mínima de código manual e um investimento reduzido na configuração, formação e implementação.
As plataformas low code estão a ganhar adeptos que afirmam que estas podem ser mesmo utilizadas para entregar rapidamente soluções complexas na sua dimensão e estrutura de dados. No entanto, como qualquer mudança que provoca disrupção, as plataformas low code ainda não foram testadas amplamente e há quem defenda que, apesar de serem muito adequadas para algumas áreas de negócio, não são uma opção viável para desenvolver soluções mais complexas, uma vez que questões como a robustez, segurança e escalabilidade são muito complexas de gerir neste tipo de plataformas.
Apesar das organizações estarem pressionadas pelo tempo e pela necessidade de mudança constante, é importante que avaliem corretamente as suas necessidades de desenvolvimento aplicacional e que as decisões sejam estruturadas de acordo com as necessidades da organização.
Artigo publicado originalmente no Diretório Global das TIC, Empresas e Profissionais 2017/2018
Joana Peixoto é responsável pela atividade comercial e de marketing da Opensoft, estando também muito envolvida na gestão de produtos de software e implementação de alguns projetos, estratégicos para a empresa.