A dívida técnica já era um problema para algumas organizações antes da pandemia, mas a necessidade de adaptação urgente a novos modelos de trabalho que a pandemia exigiu, trouxe o agravamento deste problema.
Quando se saltam etapas no desenvolvimento de soluções tecnológicas, criam-se problemas que vão aumentando os custos operacionais ao longo da sua utilização. Estes custos operacionais equivalem a juros de uma dívida que as organizações pagam ao longo do tempo, daí a denominação de dívida técnica.
Se em 2017, a consultora Gartner já previa que 90% das situações de dívida técnica existente naquela altura iria acompanhar as organizações até 2023, qual será a previsão de tempo atualmente? Deixamos esse exercício para as consultoras, mas depois das mudanças exigidas pela pandemia para manter os negócios operacionais, acreditamos que tenha aumentado bastante.
Senão, vejamos: de um dia para o outro, milhares de organizações tiveram de encontrar uma forma de dar continuidade ao seu negócio fora das suas instalações físicas, disponibilizar equipamentos às equipas ou até permitir acessos seguros a sistemas da organização a partir de dispositivos pessoais. Como foi tudo tão rápido, houve pouco tempo para ponderar os prós e contras de cada escolha tecnológica. E eis que surge a dívida técnica.
Surge assim a necessidade de preparar a sua organização e reduzir a dívida técnica e para isso partilhamos alguns cuidados que deverá ter para desenhar a sua estratégia.
1. Defina o que é a dívida técnica
É importante que a definição de dívida técnica numa organização seja determinada tanto pela área tecnológica, como pela direção e pela equipa de operações/vendas. Desta forma, é possível calcular o impacto negativo da tecnologia nos negócios como um todo e criar sinais de alerta quando esta se manifesta no aumento dos custos operacionais ou no atraso do lançamento de um novo produto. Além disso, veicula o sentimento de que reduzir a dívida técnica é um trabalho de equipa.
2. Considere a dívida técnica como uma questão do negócio
Muitas organizações consideram a dívida técnica como um assunto tecnológico. Nada mais errado! O cálculo da dívida técnica de uma aplicação deve ter em conta também os lucros e as perdas que esta pode gerar. Daí a importância de avaliar os efeitos da dívida técnica de forma global e trabalhar para a sua redução de forma interligada com as prioridades estratégicas de cada organização.
3. Invista na redução da dívida técnica
Depois de definir o que é a dívida técnica e avaliá-la, é importante demonstrar que este assunto é um dos objetivos estratégicos para a organização. Assim, é essencial alocar um financiamento específico e uma equipa para reduzir a dívida técnica. Algumas empresas optam por fazer equipas dedicadas à dívida técnica em cada projeto, enquanto outras, mais ágeis, preferem ter várias equipas que se dedicam à resolução dos problemas de dívida técnica sempre que têm disponibilidade.
4. Seja razoável
Resolver a dívida técnica através de projetos megalómanos apresenta altos riscos e muitas vezes prejudica o desempenho da empresa. Como? Dedicar-se exclusivamente em reduzir a dívida técnica pode diminuir a competitividade e a capacidade de inovação da organização. Uma boa opção é dedicar uma parte do seu orçamento para projetos tecnológicos ao problema da dívida técnica com ações atingíveis num horizonte de tempo que seja benéfico para a organização. Deste modo, é possível impedir que o projeto de redução da dívida não compita com outras prioridades do negócio.
Em resumo…
Agora que muitas organizações começam a preparar o seu negócio para a pós-pandemia, está na altura de olhar para a dívida técnica criada pela pandemia e começar a criar estratégias para a suavizar.
A maior parte das organizações ainda está na fase de perceber quais os “estragos” provocados pela pandemia e como podem resolvê-los. Uma opção é catalogar as opções tomadas durante a pandemia em aplicações a manter, aplicações a corrigir e aplicações que precisam de ser eliminadas ou substituídas.
Naturalmente que este processo é demorado e pode ser caro, mas essencial para a sobrevivência dos negócios. E uma coisa é certa, se há algo que as organizações aprenderam com a pandemia foi a importância de ter um plano de continuidade de negócios robusto e flexível, capaz de responder a necessidades inesperadas e que garanta a segurança da organização.