Enquanto preparo esta reflexão, dois fenómenos estão a dar-se, um a par do outro: primeiro, a velocidade da tecnologia está a aumentar exponencialmente; segundo, o volume de conhecimento gerado duplica a cada 12 horas (um ritmo impressionante – em 1945, para a mesma taxa de duplicação, eram necessários 25 anos). Isto sugere-nos algo de muito concreto sobre a evolução tecnológica e sobre a preponderância que as virtudes da inovação vão, cada vez mais, assumir no quotidiano.
Ouvimos da sabedoria popular que “depressa e bem, não há quem”, razão pela qual criar caminhos mais rápidos, eficientes ou precisos nas empresas constitui um trabalho de longo prazo – uma maratona, ao invés de uma corrida de 100m –, que deve surgir de uma troca aberta, em dois sentidos: de “cima para baixo”, com uma visão estratégica definida que possa ser implementada de forma sistemática (novos produtos, soluções, recursos), e também de “baixo para cima”, com a geração de ideias novas para desafios existentes e futuros (ferramentas, processos, dados).
O contexto em que operamos não nos reserva qualquer hipótese quanto a inovarmos ou não. Espera-se que olhemos continuamente para o mundo que nos rodeia e questionemos como entregar mais e melhor valor. Gosto de pensar neste desafio diário como uma viagem de mil passos, que se faz um a um – vamos andando e ganhando experiência para nos guiar e ajudar a definir os próximos objetivos. Sucumbir à ideia de risco é não chegar a pôr nada em prática.
Por vezes, a capacidade que se procura existe internamente, na estrutura que se tem, e não se sabe. A Investigação e Desenvolvimento nas empresas, com vista à inovação tem, por isso, tudo a ganhar com formação contínua, com a aprendizagem via “experiência-erro” e com o acelerar do processo.
A ideia de que a inovação acontece do nada é falsa e deve ser desfeita. Resultado de 99% de trabalho árduo e de 1% de criatividade, a inovação deve, cada vez mais, estar no centro das estratégias corporativas, para que tudo o que ganham também se reflita nos clientes e, no limite, em todo o ecossistema de inovação que se gera a partir daí.
“Uma empresa, se se tornar suficientemente grande, não precisa de clientes para ter trabalho”, satirizou Dilbert, a personagem americana de banda desenhada, que usa humor para retratar episódios da vida de um escritório. Olhar para dentro, identificar melhorias e começar a implementá-las é dar início a um processo que se autoalimenta e que produz resultados muito além daquilo a que inicialmente se destinou. As virtudes da inovação são, assim, ilimitadas – só precisamos de dar o primeiro passo.
Luís Pereira é diretor de investigação e desenvolvimento na Opensoft.
Artigo publicado originalmente no Jornal Económico.